sábado, 12 de setembro de 2015

Vidas que não nos pertencem





Será sempre assim até haver sol, porque depois virá a chuva sem parar e o rasto do triciclo eléctrico atola-se na lama e tudo ficará adiado para não se sabe quando, ou para nunca mais, porque a morte, pode ser já no próximo inverno. Dizem que vai ao encontro da mulher que se conhece, com pouco tino e depois, na folhagem dos eucaliptos, um tonto desejo de velho, despe-lhe o corpo generoso. Não fazem mal um ao outro, nem a ninguém. Tudo fica pelo olhar e neste segredo dos dois, desconhecem que é o segredo de todos. Nos risos estouvados das tascas, o sigilo é espalhado e malcriado nas bocas imundas do falatório. Que humanidade desumana para quem apenas se quer lembrar quando já se esqueceu de como é o corpo de uma mulher.


mz




imagem da ilustradora Rébecca Dautremer
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