sábado, 18 de julho de 2015

O Senhor Doutor



Cruzamo-nos nos corredores do ginásio. Sempre muito sisudo, sempre muito tenso, não lhe importa se o sol brilha ou se as nuvens o escondem. Não é de luas, ponto final.
- Senhor doutor não seja tão carrancudo! Dê-nos lá um sorriso para que esse azul dos seus olhos brilhe mais um bocadinho.
Mas dali não sai nada. Apenas delicadeza nas palavras e monotonia nos movimentos, na melhor das hipóteses, um esboço de sorriso, um princípio de careta feia à medida do empenho. A mecânica das máquinas até lhe assenta bem, é que quase nem se distingue se está em esforço ou em pausa.
- Respire senhor doutor, respire!
Não desiste e nós que o conhecemos de outras paragens, também não vamos desistir e muito antes do final do ano, veremos um grande brilho naquele olhar.


mz



 imagem: tela de Amedeo Modigliani
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