domingo, 14 de junho de 2015

Santo António, não fazeis milagres?





O ano passado fui contigo na procissão. O calor queimava-me os braços e punha-me a cabeça tonta, em cada passo, não sei se me arrependia ou se me encorajava. Todos os sapatos, grandes e pequeninos esmagavam erva-doce e o cheiro que largava escalava-me as narinas e remexiam-me as memórias. Um pouco do antes, na cadência e nas rezas e no cheiro, era a festa de outrora. No chão, também o junco e alecrim, incenso e alfazema, preservam-se as ervas do campo meu santo António que o resto se transformou. Generosas as casadas que te limparam e enfeitaram e te fizeram a festa, emprestaram seus meninos para compor a procissão. Já não há solteiras que te sirvam nesta aldeia. Por acaso não fazeis milagres? 


mz



imagem: aguarela de João Barcelos