terça-feira, 11 de junho de 2013

Os Pássaros não me deixam dormir


 
Ninguém pode ser o mesmo se lhe incomoda a cantoria da passarada.
Porém, quem quer acordar com as galinhas por causa de meia dúzia de passarocos madrugadores? Na aldeia, nada, nem ninguém é inocente.
A figueira dá-nos figos deliciosos, contudo, nada cresce por baixo da sua frondosa sombra. As ervas daninhas, umas loucas gananciosas a apoderam-se de tudo o que podem. Aquela romântica, bucólica e inocente aura que os poetas atribuem à aldeia, não existe efetivamente. E a saudade é apenas saudade. As pessoas não são inocentes. Prendem os cães com cadeado e dão veneno aos caracóis. Ao domingo, as mulheres, depois da missa, anseiam por falar da vida alheia e os homens, a maioria, ficam à porta do café central a ver passar navios, que é como quem diz; a fazer rien de rien.
O melhor da aldeia é poder ir ao quintal colher laranjas para sumo, um limão ou outro, tirar-lhe uma pontinha de casca para o Martini e ao fim do dia, uma mão cheia de cidreira fresca para a verdadeira infusão ao deitar da cama. O melhor da aldeia, é ter estes mimos sempre à mão sem sair de casa. Que pena os pássaros não me deixarem dormir.
 
Mz
 
 
 
imagem: Tela de Armanda Passos aqui
Pintora portuguesa, expõe desde 1976