sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Dormir.


 
Esta noite sonhei com a rainha de Inglaterra.
A idosa apresentava-se cansada. Usava vestido e casaco cor-de-rosa e um chapéu enfeitado de penachos a condizer. Eu e ela, as duas sentadas a uma mesinha redonda com toalha bordada tomando chá e comendo uns grosseiros biscoitos de azeite da Beira Baixa. Era tu cá, tu lá. Como em todos os sonhos, o cenário rapidamente se alterou. A rainha deu lugar ao Presidente da República do nosso país. A figura apareceu de rosto curtido e sisudo, apenas um rosto seco sem vida e distante. Sem intimidade. Eu ali, e ele mudo o tempo todo. Duro, amargo e sem chá. Apenas isso. E eu acordei com lágrimas nos olhos pela primeira vez em todos os sonhos que tive durante a minha vida a dormir ferradinha.

Mz


 
 
Imagem: Fotografia do blogue Diário de Lisboa
Café Tati - Cais do Sodré

sábado, 20 de abril de 2013

Altruísmo


Sou Cética quanto ao altruísmo no verdadeiro significado da palavra. A entrega desinteressada de um ser humano a outro ser humano sem qualquer contrapartida, será sempre uma utopia ou um paradoxo a balançar entre a grandeza e a humildade.
Existe Bondade. Existe Solidariedade. Existe Dedicação. A humanidade definhava carente se o homem fosse desprovido destes dons. Os abnegados inquietam-se todos os dias com a miséria do mundo e todas as suas privações. Atuam, tomam providências, e por momentos, o ser humano se aquieta e se tranquiliza consciente de que algo foi feito, consciente de que alguém se confortou.
Contudo, a consciência toma várias formas.
Tenho  por certo, de que toda a bondade e condescendência pelo outro, será sempre uma entrega plena de satisfação pessoal. Assim sendo, Plena de Satisfação, transforma-se no REGOZIJO INTERIOR do indivíduo na sua mais profunda intimidade, ainda que inocentemente, o que  por si só, considero ser uma contrapartida.
 

MZ

Original escrito para
Fábrica de Letras
Tema: Altruísmo

 
 
Tela: Henri Matisse
Pesquisa Google

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Aniversário!




Data de Nascimento: 15 de Abril 2009
Nome: Afectos e Dúvidas
Autora: Mz

Este espaço negro, já foi azul céu. Este silêncio, já teve som. Do mar. Depois cansei, pintei as paredes e preferi o silêncio para não criar problemas a quem me lê na hora do patrão. Ou para preservar a integridade deste. Aqui, também temos de pensar nestas coisas - em não complicar a vida aos nossos leitores.
Os textos continuam. As narrativas mais ou menos chatas, ou interessantes, ou supérfluas. A poesia lamechas, ridícula, com rima ou sem rima. Um floreado de palavras que até me soa bem e depois, mais tarde quase me cai o queixo de espanto – escrevi esta coisa?
São apenas escolhas. A blogosfera é uma constante mudança, e permanecer por aqui, é uma forma de estar muito pessoal. Não obstante, é também a vontade descomprometida da partilha e uma certa dose de disciplina.
A todos os que por aqui passam, principalmente aos que me inspiram, aos que me leem e comentam, muito obrigada!
 
Mz
 
(imagem: google)

sábado, 6 de abril de 2013

Delírio do Poder


 
Esquecem-se que a nação já não confia em quem compra livros à medida das suas estantes, nem em quem tem pianos numa casa onde se desconhece uma nota de música. Esta nação não é para vistas. Esta nação tem de ter dedos para tocar piano e olhos que leiam o que é imperativo.  Ainda assim, sem ética continuam firmes e delirantes com a fantasia de que no vale dos humildes, o povo continua a ofertar-lhes presuntos, galos, cabritos e vénias, esquecendo-se de que esse tempo já lá vai. Oh cabeças de vento no alto de uma Serra!
E é tão triste a ilusão de olhar o povo pequenino, tão pequenino.
 
Mz
 
 
Imagem: Tela-Michelangelo Buonarroti
(...face detail of god...)
aqui