quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Do Avesso.



Existem pessoas peculiares.
Esta de que vos falo, nunca tolerou costuras coladas ao corpo. Não se lamenta das palmadas levadas por ser tão birrento com tão distintiva irritação. E passou anos e anos a revirar as meias e toda a roupa interior que vestiu por ter de cobrir o corpo do pudor que a lei exige cobrir. E assim andou, resmungando e praguejando anos e anos com quem lhe tratou da roupa sem nunca respeitarem estes gostos contrários de preferir andar ao avesso.
A idade foi uma jornada sempre com os mesmos tiques e comichões. Assim andando, outros apêndices incomodativos se lhe juntaram; os sapatos que lhe apertam os joanetes e a maldita dentadura que lhe dá um doloroso charme. Sabe que é uma pessoa boa, porque assim lhe dizem os outros. Dão-lhe palmadinhas afetuosas libertando-o da consumição de todas estas birras e resmunguices. Sorri porque resiste a mais um Dezembro sabendo que o mundo não se vira ao contrário por alguém se vestir do avesso.
Avesso que dá cautela, é o mundo dos homens que os obriga a um sorriso azedo ao se remendarem vidas costurando um ponto aqui, um ponto ali, cerzindo a exploração do homem pelo homem que se faz sem pudor à luz das Boas Festas.
Mz
Imagem: Tela Vincent Van Gogh