sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Baía...



Neste sítio onde eu vivo, conheço-a de cor. Posso não a olhar, por vezes, mas, posso cantá-la de memória como se canta uma canção. Sem me esforçar,  apenas surge... Ilusória como fotogramas, sequência de imagens, cores, movimento e quase, quase... o cheiro. Espelho calmo de forma curva, azuis em degradé para lá do infinito... água transparente, ou turva de areia dançarina. Gaivotas aninhadas, ou rumo à calçada das pessoas. Homens em barcos de pesca, veleiros adormecidos e outros... outros de velas molhadas, abraçadas a este vento de Inverno. Passei por ti e não te olhei, mas conheço a tua canção neste sítio onde eu vivo. Baía em solstício de Inverno.




Imagem: tela de Henri MatisseAQUI

Original, escrito e publicado...
Mz

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

No Final...


Apocalipse, finais dos tempos, do meu tempo... se tiver tempo para reflectir.

Sei que nem todos os que se ajoelham, pedem perdão e, tão pouco pedem perdão antes de vir alguém que os enterrem. Terei sempre dúvidas no final.
Deus e Universo.
Perdão e castigo.
Dizem que, se for Deus, o castigo não será assim tão duro, Ele sabe perdoar. Do Universo, não preciso que me falem, tenho-o como implacável e impiedoso. Não perdoa. Cobrar-nos-á sem clemência, molécula a molécula, átomo a átomo, até ao pó. Antes do fim, ajoelhar-me-ei e mostrarei a minha nuca, olhando um qualquer soalho escuro ou um pedaço de terra que me irá engolir? Ou erguer-me-ei liberta abraçando o nada onde cabe todo o meu eu?



Imagem: pintura de Giacomo Balla


Original, escrito e publicado...
Mz

domingo, 15 de janeiro de 2012

Amolador...









Arrasta-se ainda ligeiro com uma bicicleta nas mãos. Sobe a ladeira da estrada e, na ligeireza dos seus vagarosos passos, vai parando conforme o corpo lhe pede. E agora, não me levem a mal que eu não sei o nome do instrumento e a língua portuguesa é traiçoeira… Tira do bolso a gaita e leva-a aos velhos beiços e solta aquele som em jeito de uivo  afinado. É o inconfundível som do amolador. Era quase sempre a chuva que trazia um homem destes à aldeia, devia ser por causa dos guarda-chuvas… Apaga-se este som antigo, deixo o século passado e as memórias de criança. Um homem, estende-lhe um embrulho de pano, lá dentro as facas. Trocam umas palavras. Ajeita-se o artesão à sua máquina de trabalho, roda o esmeril e afia, afia, afia… pára cansado e volta a retomar a pedalada. No fim, o pagamento e novamente o som antigo neste século diferente. Para mim, o arrepiante som do amolador.




Tela:Frank Auerbach aqui



Original escrito e publicado...
Mz

sábado, 14 de janeiro de 2012

Mensagem para todos vocês...

Queridos blogers,
não sei o que aconteceu, mas, a partir deste momento, só poderei comentar blogues que tenham o sistema de janela pop-up...
Desconheço as causas e irei ficar muito triste por não poder comentar todos os que têm o sistema de  mensagem [abaixo incorporada] - na colocação de formulário de mensagens.

A única solução será vocês aderirem ao mesmo sistema de comentários que eu própria tive de aderir, pois também não conseguia responder aos vossos comentários na meu próprio blog.
Se entretanto tiverem algo a dizer sobre este assunto e me puderem ajudar sou toda ouvidos.
Não vos quero perder... please...please...
Obrigada.


Original escrito e publicado...
Mz

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Desafio Musical...


(...roubei esta imagem ao jonnhy...)


Agora vamos lá desalinhar o perfil do meu blogue porque eu não viro as costas a um desafio, mesmo que ele seja uma coisinha tão simples como esta com que o Jonhhy me premiou. Mas, primeiro, vão ter de me ler se faz favor!

Música e Ruído...
Se todo o ruído de 2011 se convertesse em sons de uma boa música, eu diria que estava a sonhar com impossíveis. Deram-nos música convertida em  ruído… E, o ruído, é tanto maior quanto o som desafinado de uma vida que não queremos. A pauta, essa, a da verdadeira música, é uma mais-valia nas nossas vidas e, se existir alguém que não aprecie esta arte, então, muito pouco lhe poderá despertar grandes emoções.

Desafios em corrente vindo do blogue Val´nada Inc.Aqui
Para participar terei de escolher cinco músicas que descobri no ano 2011. Podem não ter sido editadas nesse ano, mas terem sido ouvidas apenas nesse ano.


Aqui ficam as escolhas... com referência especial às duas últimas por serem portuguesas e com grandes vozes! 

1-Portishead - Roads..                                                          


2- Milow - Ayo Technology...


3- Solsavers - Revival...


4- Amor Electro - A Máquina...


5- Aurea - The Only Thing That I Wanted...



Lanço o desafio a:
Café com Canela
Including The Kitchen Sink
O Guizo e o Gato
Papoila
Perfume de Jacarandá

O desafio está aberto a todos os outros bolggers que por aqui passarem e gostarem de postar as suas escolhas.



Escrito e...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A tia...



A Tia usa casaco de vison neste dia com sol de Inverno. As jóias, aparecem apenas quando leva a mão a compor a madeixa de cabelo que a laca não segura. A Tia vai falando e arrastando as vogais e algumas consoantes que compõem o seu monólogo. Acusa a agressividade da comunicação social pelo sofrimento antecipado das pessoas desta terra. Culpa-os da inquietação que atormenta os seus netos já adultos. Aconselha-os a não verem televisão, a não lerem os jornais. A Tia vai falando e ninguém a escuta. E fala e fala sozinha continuando a culpar este jornalismo exaustivo e exacerbado que até consegue destruir a esperança da maternidade. Quer bisnetos e eles não se decidem! Os seus netos pensam demais na crise, pensam demais em tudo. Têm medo do futuro. A Tia não entende, não compreende determinadas atitudes. Ela não sente a crise. Ignora que a crise toca como um rufar de tambor grave e forte que atinge as têmporas das famílias, é um trompete agudo que chega como um grito desesperado. Nada vai ser igual. Um dia é um dia, um ano é um ano. O ano que dizem agora, ninguém querer. Dois mil e doze é como um túnel pouco iluminado e ao fundo, a Tia não vê uma explosão perturbadora, apenas vê fogo-de-artifício e o brilho das suas jóias. Ignora que por aqui nada vai ficar igual.

Feliz Ano Novo, Europa!
Feliz Ano Novo, Mundo!




Escrito para FÁBRICA DE LETRAS
Tema: Crise
 
 
Imagem: Pintor impressionista
Chaim Soutine aqui
 
 
Original escrito e publicado...
Mz