segunda-feira, 18 de abril de 2011

Alecrim...



Trouxe-me um raminho benzido, a minha amiga. Uma palma entrançada num galho de alecrim e uma pernada de oliveira, tudo preso com uma fita de seda roxa. Foi o cheiro da minha infância que eu respirei hoje, foi isso! Junto, chegou-me também um domingo com o mesmo propósito religioso de todos os 'Domingo de Ramos'. O mesmo recitar a alta voz como uma música de cor e salteada, igualzinha à tabuada de à muitos anos atrás.
Abeirou-se a ligeireza da Páscoa dentro de mim como menina que era e as coisas que não compreendia. Vai... e eu ia... Inocente, pequenina, alegre, de mão dada com a família, o povo e os ramos de alecrim. Balouçava o ramo e o vestido. Sempre com o meu melhor vestido. Depois, guardava-se o benzido e, nos dias de uma trovoada manifestamente assustadora, eu conquistava a glória de a amansar! Uma ilusão popular aquietava o meu medo com um ramo seco de alecrim. Pedacinhos cheios de graça divina que eu lançava para o fogo da lareira convicta de que, a tempestade perdia toda a sua força. Há muitos anos que os ingredientes são os mesmos, mas a crença já não se aplica.

Hoje, salvo o teu raminho benzido para que me guarde das minhas tempestades, daquelas do meu interior, minha amiga. Obrigada.




Fotografia: Diario de Lisboa
com carinho
Mz