terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pombos...


Alguns pombos... coitados!
Vi-os na Rua Augusta. Plumagem baça, rara, peladas no dorso e patinhas aleijadas. Borbotos de carne esponjosa a nascerem sem precisão... como tumores malignos salientes e encavalitados. Depenicam migalhas aos pés das mesas de esplanada. Enchem-se de gordura, açúcar e poluição. Coitados dos pombos de Lisboa!
Agitam os jornais para os espantarem, os homens que engolem o café e as pragas que lhes gostariam de dizer. Raio dos pombos! Coitados dos pombos, digo eu... que os  pombos da minha memória, não são assim! Os meus pombos, têm pombal caiado de branco e telha lusa que os abrigam. Comem o bago saído da terra, dourado ao sol e estendido na eira. Não os enxotam. Os homens da minha memória, dão-lhes de comer com carinho e, os arrulhos que soltam, são melodias em todas as tardes. Alguns, mensageiros pombos-correios... outros, apenas voam saudáveis e livres.




Fotografia "A Brasileira" - Chiado, Lisboa
Do blogue que muito aprecio, Diário de Lisboa AQUI 
  



Com carinho
Mz

domingo, 18 de setembro de 2011

Murmúrios de Fé...


São muitos os dias em que ponho em causa a minha formatação católica. Não tenho dúvida que, para além da carne do meu corpo e de todos os sentimentos, incluindo os bons e maus, dentro de mim, existe algo que vive de uma forma espontânea e me empurra sem obrigação. Acreditando em Deus e com dúvidas, eu vou. Será isto a força do Espírito Santo de que falam os entendidos? Não sou assídua porque me irritam alguns trâmites e leis injustas, pensamentos e preconceitos dos homens que O representam. Mas, devido a esta força que me empurra, vou sem olhar aos dias e misturo-me com aqueles que murmuram rezas de fé. Vou e também rezo e murmuro o principal apenas para mim e com Ele. O resto, é partilhado em voz alta a par com os outros que lá estão por razões que só eles sabem.




Galeria Fotográfica: Ansel Adams aqui

Com carinho
Mz

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Naquele Dia...



Não obstante o gosto e fascínio pelo meu trabalho e uma boa dose de paciência recentemente adquirida pelas férias de Agosto, eu teria entrado em colapso com a mesquinhez típica de um certo tipo de clientes armados ao pingarelho chocalhando pulseiras de ouro como rótulo de aviso – Somos Ricos! Naquele dia, passei a manhã mergulhada em medidas, texturas e cores. Revendo e reinventando o design mais apropriado para um específico conjunto de móveis feitos à medida pomposamente solicitado por este par de clientes excessivamente exigentes por caprichos ridículos e pirosos que eu ia disfarçando sem obter resultado.

Tudo isto me pareceu tão pequenino, quando depois de almoço o mundo pasmou indignado com o ataque mais inesperado ao WTC, vendo em  directo as terríveis imagens coladas a um formato cinematográfico sem duplos. Seria bom podermos passar uma esponja amnésica e simplesmente esquecer. Eu estava a lavar os dentes e a pensar na melhor forma de convencer os meus clientes anafados e reluzentes quando a primeira torre foi atingida. A lavar os dentes...

Muitas coisas perdem o sentido quando existem dias que, pela grandeza do horror que causam nos deixam incapazes de entender as razões da maldade humana a uma escala infinita.


(imagem pesquisa: Google)

Com carinho
Mz


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Velhas (e) Amigas...




Já que insistes em trazer-me algo, então traz-me um raminho de salsa fresca para enfeitar o almoço. Meia dúzia de limões para espremer em limonada e flores... um molho de flores, que podem ser do campo. Mistura-as com alecrim para perfumar a mesa que vou pôr lá fora ao sol. Traz-me também alegria e risos e conversa que poremos em dia. Depois, dulcificamos as bocas com Bolo de Cambraia, o mais fofo que eu sei fazer .  Talvez abra aquele Porto velho que nos irá deixar mais tontas e de língua mais solta para falarmos sem medo e sem disfarces do que nos apetecer. No final, eu levo-te a casa e tu voltas a trazer-me à minha e andaremos nisto até termos consciência de que cada uma tem de ficar sozinha na sua própria casa.

Mesmo que não tragas nada e não queiras falar, vem. Comeremos em silêncio a ouvir as conversas dos vizinhos, os pássaros e a nortada a sacudir as laranjeiras. Não te preocupes com o sol que eu tenho uma sombrinha antiga de cor azul com franjinhas brancas que vou espetar no pátio e, se o tempo mudar e as nuvens aparecem, sempre poderemos fingir ter um tecto de Verão. Mas vem... eu espero-te de avental.







Para a Fábrica de letras
Tema: “Fingimento”




Imagem: Tela de Inimá de Paula


Com carinho
Mz