terça-feira, 31 de maio de 2011

Ainda o Sem Abrigo...



Já vos falei dele. De um sem abrigo em condomínio fechado. Durante meses, muitos meses, não me passou indiferente e, várias vezes me questionei como e porque foi inserido num lugar incompatível socialmente com a sua figura e forma de estar. De onde terá vindo. Pensei em todos os nomes para ele. E, surpreendeu-me não ter uma alcunha de rua, ou talvez tenha... Então é ele de seu nome, Feli... Um inadaptado da sociedade, sem abrigo e esquizofrénico adoptado por quem pensa ver um ser paralelo a Jesus Cristo, senão o próprio, dizem por aqui. Formato insano da religiosidade exacerbada, que em vez de bondade consciente pensa e age assim com esta... esta loucura. Loucura!

Já vos falei dele, sim aqui . Dois anos passados, continua sem se adaptar. Já não anda tão limpo e, a pessoa que o acolheu está quase tão louca como ele. A responsabilidade é grande. Esquece os medicamentos, bebe muito e vagueia sabe-se lá por onde. Depois de regresso, volta sujo, faz zaragatas durante a noite. Numa sociedade estruturada e cautelosa desconfia-se e temem-se os marginais, os aparentemente loucos e os verdadeiros loucos. Queremos segurança e uma cidadania responsável. Questiona-se o que se paga para usufruir de um espaço com certezas de alguma segurança. Sem piedade, também acusei, e não gostei que um louco meio andrajoso se misturasse com as crianças no jardim. Depois, habituei-me a ele. Tolerei e condenei-me também. E agora que está ainda mais degradado, finalmente falei com ele.

Apanhada desprevenida, hesitei, mas... Raios, é apenas uma pessoa  problemática e doente! Subserviente e cheio de tiques, prontificou-se a carregar o meu saco de garrafas vazias até ao ecoponto. Confiei e cedi. Apagou o cigarro que estava a meio e guardou-o na beira do muro para mais tarde o terminar até ao fim. Enquanto se estilhaçavam todas as garrafas em pedaços de vidro, trocámos algumas palavras. O essencial para me aperceber da esperteza da sobrevivência. Na sua aparente loucura, rápido na comunicação, rápido na tarefa, falou-me atabalhoadamente de contratos de trabalho, da remuneração à hora e, à sua maneira fez-se à moedinha  
 
 
imagem: google
 
 
 
Com carinho
Mz

terça-feira, 24 de maio de 2011

K.O.



Com todas as divergências e convergências de pensamento, existem infindáveis interesses comuns que nos afastam ou aproximam do ser individual ou colectivo. Sentimentos nobres ou maléficos circundados de conveniências várias que roçam os negócios, a política, a religião, disputas de cargos profissionais, lugares de destaque na sociedade e por aí fora! Depois, estes mesmos sentimentos mergulham nas emoções e abraçam ou repudiam o amor, a amizade, e um cem número de manifestações de carinho. É toda uma atracção ou repulsa por seres da mesma espécie. Tudo se afasta ou se atrai. Manipuladas ou espontâneas, as aproximações convergem como um íman invisível ou desviam-se sem explicação aparente ou evidente. Argumentam-se teorias. Emergem concórdias e discórdias. Discute-se. E, das discussões, surgem sempre caminhos evolutivos ou destrutivos ou até mesmo estéreis.

E eu pasmo...
Pasmo, com atitudes incoerentes e injustas onde da balança pendem dois pesos e duas medidas visando gelidamente o interesse pessoal.
E fervo...
Fervo quando me dão palmadinhas nas costas e tentam convencer-me, mostrando-me o  lado cru dos interesses individuais.
Não me dobram...
Não acredito num caminho individual nem no indivíduo que caminha somente para desbravar a sua imerecida ascensão atropelando o caminho dos outros. O individualismo e a ganância afastam o homem da sua essência, por conseguinte, do seu saber estar solidário e justo. Também não acredito numa postura mecânica e robótica quando todos sabemos que o homem é um vulcão de emoções. Expludo... Não creio que a vida em traços gerais tenha um resultado vitorioso baseado numa fórmula resumida e apresentada em folhas de programa Excel. Dizem-me que as pequenas injustiças são necessárias para que a máquina gigantesca dos interesses sobreviva. Sou e serei sempre divergente neste pensamento e, enquanto me continuam a dar palmadinhas nas costas e pedindo-me para confiar, eu apenas sinto que vou perdendo combates.

 
 
 
 
imagem:Google






Com carinho
Mz

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Livros... (desafio literário)



Do teu mar para o meu mar, Carolina...
Se o desafio é literário, posso dizer que é um desafio intenso e extenso. E, falando de livros, confesso que já perdi a conta dos que já li e reli pelo simples facto de que, basta uma década para alterar a forma de ler com os mesmo olhos o mesmo livro e, daí por vezes, apreciar muito melhor a mesma leitura. Escolho por isso um livro, que na minha adolescência entrou como uma espécie de código de liberdade, 'Fernão Capelo Gaivota', de Richard Bach. Dos livros que comecei a ler, parei, recomecei e voltei a tentar sem nunca o conseguir ler até ao fim, evoco 'Os Lusíadas', de Luís Vaz de Camões, onde nem todos os cantos os meus olhos conseguem decifrar esta maior e mais nobre aventura alguma vez escrita num código incrível!
Falando de escolhas e de livros para o resto da vida, escolheria um outro livro, todo ele de parábolas e escritos arrastados há muito mais de mil anos e o mais lido no mundo, 'A Bíblia Sagrada'.
Não sei quantos livros gostaria de ler e ainda não li... Sei que li até ao último parágrafo todos os livros que me prenderam e entusiasmaram, salvo os de difícil entendimento e retirando também todos os outros, os que são técnicos e manuais escolares. Da literatura obrigatória, destaco, 'Eurico o Presbítero' de Alexandre Herculano como o mais aborrecido, mas que li até ao fim, obrigatóriamente. Os preferidos são e serão sempre, todos aqueles que me façam entrar pela história dentro, dando destaque a  um  romance histórico de Hildefonso Falcones – A Catedral do Mar, que ainda tenho à cabeceira.




Um desafio do blogue Café com Canela que me fez reflectir um pouco sobre os livros que já passaram por mim. Aberto a todos os que me lerem.


Imagem: Google


Com carinho
Mz

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A escutar...


Não sou muito política, mas tento acompanhar e ouvir o máximo de debates para que possa conhecer e entender o que cada partido tem como solução para o nosso país, desta vez com a Troika a marcar passo. 
Com o mundo a fervilhar de acontecimentos e com os olhos postos neste rectângulo, continuamos com o nosso quintalzinho alvoroçado a contrariar todos os avisos de união necessária para levarmos avante a estabilidade e credibilidade internacional que nos é imperiosa. Quando precisamos de entendimento, temos um coelho que nos sai da cartola com um apartheid anunciado. Primeiro a uma rosa e depois a todo o roseiral. Não se augura nada de bom e isto vai arrasar com o resto que por si só já é muito grave. Tudo seria muito mais fácil se pudéssemos descartar jogadores eleitos democraticamente e enviá-los para o Tarrafal dando-lhes assim o castigo merecido pelas faltas cometidas num jogo que não se joga só. Visto isto, não iremos ter um teimoso mas sim dois teimosos como líderes dos maiores partidos políticos de Portugal. Vença quem o povo escolher, teremos de remar todos no mesmo sentido e, ter a consciência de que não se pode atear o ‘fogo da santa inquisição’ só porque um menino do coro não quer cá misturas. Tenham juízo e sejam os homens que tanto esperamos!


imagem: Google

Com carinho
Mz

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Longe...


Ontem, fora de casa, um almoço simples, sem bolo de chocolate porque eu estou de dieta. Mais calada que o habitual, vou remexendo a comida e olhando as velas coloridas da regata com o mar mesmo ali ao lado. Vou comendo e finjo que não sinto a falta deles. Rio-me desta parvoíce e só penso no óbvio...

Estivesse eu em casa da minha mãe, não haveria dieta para ninguém, apenas vontade de devorar o que  sobre a mesa aprouvesse  e, estivesse o meu filho presente neste momento, haveria de esquecer dietas e vaidades, apenas pela alegria de o ter ao meu lado. É estranho quando eles crescem e as suas vidas já não permitem serem manipuladas apenas pelas mães. Ainda bem. Já foram tantos Dias da Mãe tradicionais que posso suportar um ou outro diferente. É melhor que me habitue. E pronto, não recebi as flores tradicionais do meu filho nem ofereci flores à minha mãe. Há distância, foram apenas vozes e palavras que demos e recebemos ontem. Mimos... E, apesar de este dia ter sido diferente, sem os ter a meu lado, o sol apareceu pela manhã, as velas coloridas da regata trouxeram muita cor e as janelas rasgadas para o mar deram-me também alguma serenidade. Não me posso queixar! Estamos todos bem.




...
Meu sentir partilhado com a Fábrica de Letras 
Tema de Maio: "Mãe"



 
Com carinho
Mz