quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tia Gi


Não fosse o conceito exacerbado de se sentir mais perto de Deus.
Não fosse a dose excessiva da sua devoção, não por ser a Deus, mas pela auréola de beatice que carrega orgulhosamente. Não fosse este impeditivo, poderíamos passar umas tardes perfeitas em casa da Tia Gi.

Para ela, como todos os caminhos vão dar a Roma, todas as conversas vão dar ao tema que mais gosta de abordar, sem dúvida, o livro mais lido no mundo inteiro.
Com os seus já avançados setenta e muitos anos, a vida é para continuar...

Resguardada dos ventos e do frio, só sai quando o sol é generoso. Sempre com os típicos achaques que já têm tantos anos quantos eu a conheço. De queixumes e lamúrias, lá se vai aguentando mais rija dos alguns jovens da família. Entre as leituras bíblicas e os seus bordados que a prática de anos aperfeiçoou e a sua vista ainda permite lá vai entretendo o seu orgulho e o seu tempo.

Pelo meio, entram as ordens à empregada, os chazinhos, as torradas, as compotas caseiras, os linhos, as linhas, os riscos, as histórias de antigamente, as visitas de amigos e familiares. São assim as tardes da tia Gi ...

Quem chega a meio da tarde vai encontrá-la sempre com visitas ou a ensinar qualquer coisa. Quando isso não acontece, a tristeza afunda-lhe as rugas já existentes e o peso da idade monta-se no semblante de uma mulher que não gosta de estar só com os seus botões...




(Imagem: Google)


Com carinho
MZ