domingo, 28 de março de 2010

DESTINO


Voltou para casa.

Trouxe no bolso a morfina que lhe vai acalmar a dor.
Pede que se turvem os contornos do seu corpo. Que desapareçam todos os espelhos para que não se reveja num corpo que já não reconhece.
Prefere um corpo à contra-luz.
Se pudesse voltar atrás... um só dia... sem cancro.
Quem lhe acalmará a dor da incerteza de viver amanhã?
Como será sentir a morte quando é Primavera?
Dói-lhe toda esta contradição.
Dói-lhe todo este sol, embora seja o que mais quer na sua vida...
Ontem, disse-me que ia enviar um e-mail ao António Feio e pediu-me para  ver e divulgar a mensagem do vídeo Contra Luz.


VIVAM!
Cris já não pode fazer inversão de marcha...




(Fotografia de: Pedro Noel da Luz)




Com carinho
Mz

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sob protesto...


Os pássaros andam adiantados em relação ao relógio que o homem impõe.
Se assim não fosse, não me teriam acordado às cinco horas da madrugada durante três dias seguidos.
A aldeia tem destas coisas... é a própria natureza que nos serve de despertador!
Curiosamente, não me recordo de ter escutado o galo a cantar como era esperado...
Mas os pardalinhos, esses, não se conformam com a alteração da hora ou não fossem eles seres de asas leves e voos livres. SOB PROTESTO, chilreiam estupidamente sem cessar ainda madrugada escura.
Eu adoro ouvi-los, mas naquela altura dou comigo a pensar em transformar-me numa bruxa raivosa empunhando a pressão de ar e terminar com aquele concerto primaveril fora de horas.
O normal, seria os passarinhos andarem de árvore em árvore alegrando-nos em cada final de tarde até ao anoitecer e não de madrugada!
Mas também quem me mandou plantar as buganvílias nas traseiras da casa? Trepam agora com toda a força bem agarradinhas às paredes onde moram as janelas dos quartos e pelos vistos não uma mas várias famílias de pardais tendo em conta tamanha algazarra.
As toupeiras, também fizeram das suas... uma parte do meu jardim parece um campo minado cheio de montinhos de terra estrategicamente levantada.

As fresias e as tulipas não apareceram esta Primavera alguém andou a comer os bolbos adivinhem quem...




(Imagem: Google)




Com carinho
MZ

quinta-feira, 18 de março de 2010

VIDAs


Amanhã vou para a aldeia.
Dizem que vai chover... que pena!
Não importa, que chova depois de eu fazer os 250Km de auto-estrada. Ontem, a mãe por telefone disse que o sol desta semana já deu para que a terra encharcada se tornasse mais leve. Isto é importante, não pensem que não!...
Na aldeia, as preocupações vão para além do guarda-chuva ou do calor da gola alta. Lá, o estado do tempo interfere com o que mais tarde irão comer. Por isso, todos andavam preocupados com o atraso da sementeira. As conversas passeavam à volta deste tema quando Março avançou e trouxe o sol.
Os tractores, de charruas agarradas, entraram nos grandes quintais. Lavraram e abriram os rasgos necessários. Homens e mulheres adubaram a terra e por cima, deixaram pedacinhos de batata grelada, depois, cobriram com terra fofa. Eu sei como se faz, já participei na sementeira da batata!

A paisagem altera-se...


O verde que abundava nos rectângulos dos quintais passa a castanho de terra lavrada e semeada.
Esta, passa a guardar VIDA que mais tarde há-de rebentar.






(Imagem: Google)

Com carinho
Mz

 

segunda-feira, 15 de março de 2010

Depressões


Numa encruzilhada do tempo em que já nada é como nos habituaram,
tudo se apresenta mais louco e indomável.
São as depressões da humanidade e as depressões meteorológicas.
A terra treme constantemente.
Assustam-nos os rios com rédea curta e as ribeiras bravas.
Assustam-nos as montanhas desfeitas em lama e casas a flutuarem à chuva.
O branco polvilhado, cai em neve exagerada.
Alienados, os jardins  sussurram paz com a natureza.
Já foi tarde...ninguém os ouviu.
Vidas levadas...
Vestidos negros e cheiro a naftalina.
Rezas e lágrimas à mistura.
Abraços mais apertados,
sorrisos temerosos.
A enxada espera no alpendre e as batatas mirram antes de serem enterradas.
É preciso semear...
A terra está mais encharcada do que nunca!
O sol de Março parecia ter-se esquecido de nós.
Mas está aí...
Vens para ficar?
Ou apareces só para fazer o obséquio de nos mostrares o musgo que recorta a pedras da calçada?



(fotografia de: Benjamim Vieira)


Com carinho
MZ

sexta-feira, 12 de março de 2010

Neblina



De VELAS recolhidas e rasto suave

reconheço o ondular do teu BARCO.



Bastam-me as sombras curvadas dos homens
para me lembrarem que pescas no rio.



Na volta, de madrugada, à margem ribeirinha,
eu diria que o nevoeiro regressa contigo!


Confundem-me diáfanas as neblinas...



Não fossem os barcos poisados nas águas do TEJO
não saberia distingui-lo do CÉU!





com carinho
MZ


 
 
 
 
Fotografia do blogue de: Diário de Lisboa
                                                 (Rio Tejo - Cais do Sodré)
  

Mimo

Azul como o meu mar...
uma borboleta de cristal
voo suave...
de asas frágeis
belo exemplar da natureza...
perfeito!



Este miminho foi oferecido pela Helga do blogue Planícies da Memória
Obrigada pela tua gentileza.
Agora que o sol já apareceu, a borboleta soltou-se...

Sem regras e sem dúvidas,
espero que ela faça  um voo perfeito para  o blogue da Lala.
Aquela Lala que se define como sendo
"...aquela perfeita que tem mil defeitos..."


com carinho
MZ

segunda-feira, 8 de março de 2010

MULHER



8 de Março,
Podia escrever tanta coisa sobre este dia...
Discriminação, violência, emancipação, conquistas. Tanta coisa.
Mas hoje o meu pensamento vai principalmente para uma mulher que me é muito próxima.
Já foi líder de uma empresa de sucesso. Já deu “cartas” a muito homens. já foi minha professora. Já rimos juntas. Já nos zangámos. Já fizemos as pazes.Foi a primeira a saber que eu ia ser mãe.
Este natal, em tom de brincadeira disse-me que tinha todos os sintomas de uma gravidez, mas por ironia do destino não estava grávida. O seu humor era fantástico. Nunca soube o que era ter um filho a crescer dentro da sua barriga.
Nunca foi mãe, nem estava grávida, mas desde o Verão que continua a ter enjoos como se o estivesse.
Dentro dela, agarrado ao pâncreas está um predador que lhe mina o corpo.
É dos piores...



Para ti minha querida,
Não digas que as cores deste Inverno, são as cores da tua vida.
Não digas que te sentes a afogar por estas chuvas teimosas.
Não digas que te assenta bem este cinzento de Março.
Não te atrevas a dizer que te sentes por um fio!
Ele ainda não te venceu...
Luta até ao fim!





fotografia de: SMigas

Com carinho
MZ

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quietude...


Dei corda ao tempo, mas ele teimosamente andou para trás...
Atrás dele, voltaram as tardes de Verão em que me espreguicei na minha ingénua adolescência.
Tardes longas de um Verão quase interminável...
Sestas silenciosas numa aldeia de quietude onde nem os pássaros se atreviam a cantar.
Em casa da avó era o tic- tac do relógio de corda,
o ronronar preguiçoso da gata
ou o cacarejar quase mudo das galinhas.
Lá fora, talvez o zumbido amarelo de uma abelha...
Só mesmo a asquerosa varejeira, conseguia estragar aquele silêncio lânguido
fazendo com que alguém se movesse para a poder espalmar.
Havia sestas que eram trocadas pelo sonhar de amores e desamores
vividos por personagens fictícias de uma radionovela ou da leitura de um clássico.
Eram tardes silenciosas em que a máquina de costura ou a conversa das tias
se misturavam com pontos de crochet e limonada fresca.
Por vezes, ao longe, um cantar desafinado de uma cantiga popular
que contrastava com o preto das roupas das mulheres mais velhas
que sentadas à soleira das portas, as entoavam enquanto remendavam
um ou outro par de meias.
Foram tantas tardes silenciosas com os cheiros da fruta madura,
do milho estendido a esturricar na eira,
e da roupa a corar ao sol!...
Aromas secos e cores quentes que se fundiam com a quietude da aldeia e das minhas preguiçosas tardes de Verão.
Há dias em que o relógio volta a trás e teima em trazer lembranças especiais...



(imagem:google)


Minha participação para a FABRICA DE LETRAS com o tema "SILÊNCIO"

"QUIETUDE" é uma repostagem do mês de Agosto de 2009 que quero partilhar pois enquadra-se no tema.
Mais tarde publicarei uma postagem em que o silêncio será bem inqueto.
Até lá...

Com carinho
MZ