sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Bravo!

Como vigilantes do mar
as dunas abrem-me as portas para eu entrar

Tu hoje oh mar...
tu hoje remoinhas ventos e marés
encaracolas a tua força em massas de água escura
arrastas a areia furioso
e sacodes a raiva espumando quando te desmanchas curvando cada onda em estalos de água gelada na falésia.

Tu hoje não me queres oh mar!



(Fotografia:Biel)



com carinho

MZ

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Todos os sentidos

Selo partilhado por: Brown Eyes
Porque todos os sentidos nos levam aos píncaros das sensações
e porque o mar será sempre um dos supremos da natureza,
eu escolhi-o como símbolo do meu blogue.
É virtual, eu sei...
A imagem
O sabor
O toque
O cheiro
O som
Mas eu gosto de pensar que quem aqui entra quase lhe toca...
Quase o sente...


Obrigada Brown Eyes, obrigada por me incluíres na tua escolha e permitires que “te toque” de uma certa forma tocando nas tuas palavras.
Agora o desafio:
Dizer uma coisa que gosto em mim:
- Reconhecer quando estou errada
Dizer uma coisa que gosto do Blog que me ofereceu o selo:
- Obriga-me a pesquisar, enriqueço o meu conhecimento
Dizer uma coisa de que gosto dos Blogs escolhidos:
1- Carpe Diem – Atenta a causas
2- Diário de Lisboa – Lisboa no seu melhor
3- Papoila – Alegria
4- Sopa de Letras – Força
5- Um Chá no Deserto – Poesia





Com carinho

MZ

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Esperança



Porque faz frio, chove e neva e há dias curtos, mesmo que soalheiros, cheira a Inverno, que combina com lareira acesa, casa quentinha, chocolate quente, chá, bolinho caseiro... hum... que bom!

Felizmente há pessoas que amamos, família, amigos, colegas vizinhos... felizmente há encontros, jantares, doces, risos.

Felizmente há esta esperança de tudo valer a pena!

Quando escrevi isto ainda não sabia da catástrofe ocorrida na ilha da Madeira... por isso dou mais valor a este pequeno texto. Saber dar valor às grandes e pequenas coisas que a vida nos oferece.
Como cidadã portuguesa e do mundo fica aqui a minha solidariedade para com todas as famílias que perderam os seus entes queridos assim como os seus bens. Fica aqui também a minha vontade de que todos os esforços sejam feitos para repor as condições necessárias a todos os madeirenses que neste momento estão a passar por momentos muito difíceis.


(Fotografia: Estrela_686)


Com carinho
MZ

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Por segundos



Como num pesadelo, não era eu que estava ali.
Corpos vestidos de kimonos brancos circulavam esbatidos. E eu paralisada.
Algo me prendeu os movimentos. O meu corpo e o meu cérebro não responderam à ordem. Não responderam à voz.Os segundos transformaram-se num tempo infinito
Foi uma viagem ao vazio, ao nada.
Esqueci tudo.
Nas artes marciais a sintonia com o adversário é fundamental. Estava a ser avaliada pelo que já tinha conquistado, o meu adversário estava em exame e por segundos eu estava a deitar tudo a perder.
Em cada exame até ganhar o meu último cinto, a ansiedade dava sempre sinal, a adrenalina subia, e eu fluía naturalmente como num treino normal.
Desta vez não estava em exame. Só estava a ser avaliada pelo cinto já conquistado.Nada demais... não havia razão para isto acontecer.


Eu só tinha de atacar com energia, “kime”
Eu era o “Uke” o meu adversário o “Tori”
Eu só tinha de atacar e dar oportunidade ao meu adversário de se defender e executar as técnicas de contra ataque.
A boca do tori mexia-se em câmara lenta e eu não reconheci as palavras.
Palavras em Japonês que eu conhecia tão bem, básicas...
Mawashi Tsuki
Mae Geri
Mawashi Geri
Mae Osae Uchi
Gyaku Kubi...
e outras técnicas de ataque básicas.


Na vida, mesmo por segundos pode acontecer algo parecido.
Foi uma fracção de segundos. Depois voltei à realidade, voltei ao consciente e as técnicas foram executadas .


Jujitsu no tatami
Força e suavidade...
Dominar e deixar ser dominado
Equilíbrio
Jujitsu ensina-me a não ter medo de cair
Ensina-me a levantar-me quando caio
Ensina-me a estar mais atenta
Ensina-me a ser mais tolerante com os outros
Ensina-me a ser mais sensível ao que me rodeia.


Ninguém gosta de perder, mas mais vale perder um combate do que nunca mais combater.
Até que o meu corpo permita.
Domo Arigato, Sensei!
Oss!


Tradução de palavras em Japonês:
Sensei - mestre de artes marciais
Jujitsu - arte marcial
Kime- atitude
Uke - o que ataca
Tori – o que defende
Oi Tsuki – soco frontal
Mawashi Tsuki – soco circular
Mae Geri – pontapé frontal
Mawashi Geri – pontapé circular
Mae Osae Uchi - empurrão
Gyaku Kubi - gravata
Domo Arigato – muito obrigado
Oss – saudação em sinal de respeito à arte, ao mestre ou parceiro



(imagem pesquisa google)

Com carinho
Mz

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Largo


Sempre os vi ali...
A aldeia é a guardiã.
Os rostos vão sendo substituídos mas o estatuto é sempre o mesmo,
“Velhos”

Se o tempo lhes permite, permanecem sentados em bancos de ripas verdes sempre de costas voltadas para as paredes brancas da capela.
Contentes... de costas voltada para o Stº António!
O Santo já se habituou há muitos anos...
Imortalizado em calcário coimbrão do séc. XV, bastante tosco, tem idade suficiente para que isso não o incomode.
São tantos os dias de clausura que rejubila uma vez por ano quando chega a procissão da festa com o seu nome e o levam a arejar empoleirado num andor enfeitado de flores.
Talvez preferisse ficar sossegado na sua clausura. Antes de ser santo também foi homem... não conheceu a velhice, morreu cedo e por isso eu gosto de pensar que ele se sente mimado nesse dia.
Perdoa todos esses homens e mulheres que em tempos suplicaram um casamento a troco de rezas e oferendas. Ele não se recorda de pedir o que quer que fosse! Mas eles lá se iam casando. Das oferendas não lhe via o rasto...
Sempre foi assim...
Depois, sempre que envelhecem, viram-lhe as costas ainda que inocentemente. Mas ele gosta de ter ali aqueles rostos sulcados, aqueles corpos já curvados, coleccionando artroses, ciáticas e outras maleitas dolorosas que a idade lhes foi oferecendo.
Não leva a mal por isso. Por seu lado, esses homens e mulheres aceitam a velhice.
Resignados, gostam de dizer que as manchas castanhas que hoje cobrem a sua pele são as flores da idade e riem...
Riem mostrando as bocas engelhadas com dentaduras reluzentes ou mostrando somente os poucos dentes que ainda conservam.

É ali, no largo da aldeia com o mesmo nome do Santo que gostam de ficar atentos a tudo.
Gostam do movimento das pessoas. Assistem parados ao vai e vem da pastelaria, do café, da tasca, do talho, do supermercado, da farmácia, dos correios, da padaria...
Ah a padaria... tão antiga como eles!
Devolve-lhes todos os dias o mesmo cheiro a pão quente de outrora... cheiro enriquecido ao fim de semana com açúcar e canela. Mantendo a tradição, aquele pão continua a ser feito da mesma forma que o era quando ainda eram todos jovens.
Aceitam a velhice com alguma nostalgia também. É humano que assim seja!
Aceitam a velhice entretendo o olhar, escutando as novidades, comentando as desgraças do Mundo, cumprimentando quem passa. Presenteados com dois dedos de conversa, também partilham histórias de antigamente.
Entre o passado e o presente, são sempre os primeiros a saber quem está doente, quem morre e quem nasce.

É ali que gostam de estar, ali onde há movimento
até que o tempo os deixe ficar...


(Fotografia: Jfifas)


Minha participação para a  FÁBRICA DE LETRAS  com o tema “VELHICE”




Com carinho
MZ